quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O 15º Presente



        Eu tinha dificuldade pra segurar uma caneta e escrever umas poucas palavras, mas pra carregar um nenê recém-nascido, ah, mamãe, isso eu consigo!
        À beira dos meus 5 anos de idade, eu achava que as maiores mudanças seriam apenas quanto ao meu quarto de brinquedos, que virara, então, o quarto do bebê, tão organizado e cheio de cores pasteis.
Na minha mente de criança não cabia tamanha novidade. E eu não entendia muito bem porque tanto agito no dia em que arrumaram uma malinha e foram pra maternidade com minha mãe, mais barriguda do que nunca. Disseram que ia nascer. Era O dia.
        O mais impressionante nisso tudo, pra mim, era o pensamento de que aquele nenê devia ser um baita nadador pra ter segurado o ar durante tantos meses, afinal, dentro da minha mãe tinha sangue, não era? Ou será que tinha um tubo de oxigênio lá também?

      Só me lembro que todos não falavam de outra coisa. "Vai ganhar uma irmãzinha, Laurinha!", "Você está ansiosa pra ver a nenê?", "Vai ajudar a mamãe e o papai a cuidar dela?" era tudo o que eu ouvia.
E daí, finalmente, chegou aquele monte de cobertor enrolado com um bebê no meio. Pobrezinha! Pleno dezembro e a coitada empacotada daquele jeito. Mamãe, você não está cuidando direito dela! Deixa ela tomar um ventinho, né?
       Me deixaram pegar no colo, mas só se eu estivesse sentada no sofá e com gente grande por perto. Isso porque era a MINHA irmã. Uma injustiça.

       Mas tudo bem; ela foi crescendo. Depois de conhecermos seus olhões tão brilhantes e expressivos, notamos que ela ia perdendo suas dobrinhas originais e ganhando tamanho.
       Todos diziam que ela era muito diferente de mim. Seus cachinhos não paravam de balançar porque ela não parava de se mexer. Se não tinha se jogado do próprio carrinho, tinha rolado escada abaixo. Se não tinha pintado minhas barbies com canetinha, tinha usado todo o creme importado da minha vó pra hidratar o edredom, as cortinas e tapetes da casa. Se não estava gritando.....tinha alguma coisa errada.
       Fui me acostumando. Entre brigas e carinhos, fomos fazendo aniversários juntas. Viajamos, cantamos, dançamos, oramos, nadamos, brincamos de boneca, lemos (MUITO!), assistimos filmes,... fizemos de tudo. Jogamos muita queimada no quintal também. Eu é que saía roxa por causa de uma bolada...toda vez. Era um nenê digamos que...fortinho.

        Ela foi crescendo. E foi mostrando o quanto é carinhosa. O quanto é inteligente (genial, melhor dizendo). O quanto é íntegra; fiel aos seus valores. Mostrou que não está nesse mundo por acaso, mas que está determinada a fazer muita coisa por aqui antes de ir pra Casa. Mostrou que ama seus amigos e seus familiares. Mostrou que luta por cada um deles, que os defende com unhas afiadas (figurativamente hehe). Vai até o fim quando acredita em alguma coisa.
       Ela sabe o que quer; não tem medo de falar o que pensa. É uma menina forte! Mas também é uma menina sensível, que sofre com aqueles que ama, sofre quando nossos cães estão doentes e toma conta de todos os passarinhos de asa quebrada que aparecem perto de casa.
       É uma garota talentosa, musical. Não gosta de Maria Rita mas destrói com qualquer rock que pedirem. Coleciona palhetas, aneis de dois dedos. Gosta de coisas de caveira, de tachinhas; gosta de seriados, filmes e animes. Gosta de ler. Lê tudo. É uma devoradora de livros como ninguém. Só não entrou pro Guinness ainda porque não fala muito disso por aí.
Acima disso, é uma menina de Deus. Sabe recorrer a Ele; sabe que pode fazer isso. Sabe a importância de ler a Palavra. Sabe a importância de cada palavra que sai de sua boca e por isso as escolhe bem. Conhece o Seu Salvador, mas não se satisfaz com superficialidades. Quer se relacionar com Ele intimamente.
       Ama o serviço. Ama a Obra. Renuncia tudo o que for preciso pra fazer primeiramente aquilo que percebe ser mais importante. Ensaia, prepara, mas também improvisa se for necessário! Entra de cabeça no que tem a ver com serviço.

        Ela sabe que Deus não busca um padrão de pessoas. Ela sabe que Ele a quer como ela é. E sabe que tem coisas que só ela pode fazer, justamente por ser como ela é.

        Daí ela me vem e diz que quando crescer quer ser igual a mim. Como assim? Eu é que tenho muito o que crescer pra ser uma grande pessoa como ela...

       Amo muito a minha tuta. Ela é um dos presentes mais magníficos que Deus me deu. Posso fazer mil aniversários e continuarei o tendo. E ela pode fazer mais quinze anos, depois mais quinze e outros quinze... mais quinze vezes quinze... que eu estarei ao seu lado.

      Feliz aniversário, Dani!

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Grátis!





Tem MESMO graça
MESMO sendo coisa séria.
Tava eu lá naMESMice,
tanto faz, dava na MESMA,
MESMO assim não escapei


Me falaram da EUropa
América, África, Ásia e EU não quis
É que mEU coração queria mais...
Ouvimos falar de um cÉU
Mas nunca dEU-me de ser astronauta.


E ERRANDO a gente ia reto
Num caminho todo ERRADO
E REI nenhum decretava
E RÁDIO nenhum noticiava
O fim do inerte ERRO, tuderrado.


Mas aí ELE chegou
Mudou, ELEgantou nossa vida
ELEito pra reinar, pagou na pELE e à vista
ELEvou-se, enfim
E nem foi de ELEvador


ME mostrou MElhor.
Ou MElhor, O MElhor.


O AMArelo do ouro nada mais me vale
AH MAs como não?
É que jAMAis poderá ele pagar ou apagar
A MArca que carrego e exibo
A chAMA que me chAMA,
A MAior esperança.


É de graça!
....MESMO que EU ERRE ELE ME AMA.
(e isso estava em letras garrafais desde o começo).

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Socorram-me; subi no ônibus em Marrocos

Descobri que minha vida é um palíndromo:

Primeiro veio minha gestação.
Daí eu nasci.
Daí eu nasci de novo.
E então agora estou na minha segunda gestação.

 Sendo preparada pro que vem depois da Terra, além da imaginação humana.
Parece longe, mas está perto.
Ainda bem;
Melhor jajá.

domingo, 18 de março de 2012

Baile



Sinto falta. Muita falta.
Sinto saudades. Elas são líquidas: transbordam, vazam, ocupam todo o espaço que veem pela frente.
Sentir falta é diferente de sentir saudades, que isso fique claro. Em alguns casos, podem expressar a mesma ideia, mas não é sempre. Digo isso porque saudade nós sentimos de algo lá de trás; falta, além disso, sentimos daquilo que não temos e talvez nunca tivemos, mas que é necessário ou desejado.
Ambas me enchem e expulsam lágrimas indomáveis dos meus olhos,... Às vezes amargas, angustiadas; às vezes doces, comovidas e esperançosas.

Saudades...
Sinto de pessoas... daquelas que não vejo mais e nem tenho contato, daquelas que estão longe mas ainda alimentam a amizade de alguma forma, daquelas que ainda vejo bastante, mas deixei de conhecer (estas últimas em especial, me confundem e me maltratam) e também daquelas que estão perto, mas cuja presença, ainda que constante, nunca satisfaz a minha vontade de fazer-lhes companhia. Sinto saudade de certos abraços, sinto saudade de cômodos aconchegantes e até mesmo de outros com cara de hospital. Também de minhas bonecas - as da infância e as da adolescência - até mesmo daquelas que sempre eram as vilãs das historinhas que eu criava. Sinto saudade da minha sacolinha de pano cheia de brinquedinhos em miniatura. Sinto saudade das casquinhas de machucado nos joelhos, tão fiéis e inseparáveis companheiras minhas. Sinto saudade de sóis e de luas, ambos de dia e de noite, sinto saudade de um eclipse e de um barco. Sinto saudade de perfumes cujos frascos vieram a se revelar finitos.
E sinto falta. De pessoas que devem vir, de abraços que quero que venham. Sinto falta de músicas que ainda não escrevi, de canções que estão por ser entoadas. Sinto falta de encontros, de desencontros talvez. Sinto falta do vento no rosto e do calor nas bochechas. Do estômago revirado, da cabeça fervilhando. Sinto falta do passinho-pra-cá-passinho-pra-lá, do sonho de que a gente acorda sem se conformar que tenha sido fantasia. Sinto falta dos dias de mergulhar na lama e dos de vestir terninho e falar chique. Sinto falta de um romance pra ler ou assistir, de torcer e esperar pelo final feliz. Sinto falta de coisas velhas que nunca vi nem das quais jamais ouvi falar. Sinto falta de conhecer o que nem imagino que há por aí. Sinto falta de mudanças repentinas e radicais de atitude e até mesmo de tempo - quando aquele calor de estufa se torna tempestade no meio da caminhada de volta pra casa depois de umas comprinhas do mês no mercado. Sinto falta de riscos. Sinto falta de rabiscos. Sinto falta de tempo pra rascunhos, mas também de viver sem precisar deles.

Sinto saudade do que já senti, vi, tive, vivi; lembranças. Sinto falta de coisas que quero sentir, ver, ter e viver; esperanças.
E, olha, no fim das contas, eles têm razão ao dizer que a saudade é prova de que houve algo bom, muito bom. Senão, de quê derivaria?
Então se há algo de que não quero sentir falta... ah, não quero sentir falta de sentir saudades.

Que ela sempre me conceda a próxima dança, me lembrando em cada compasso das coisas mais belas que a mim se apresentaram um dia.
Mas que, ao fim do baile, eu sinta falta. De modo a buscar as coisas mais belas que a mim surpreenderão num outro dia.





(10/09/2010 - 18/03/2012)

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Dias Azuis

Olhos castanhos ainda azuis
roupas azuis, céus azuis
céus preto-avermelhados
estrelados
outrora embassados
de novo e outra hora
nublados.
Dois azuis diferentes
ambos azuis azuizinhos
vizinhos
embora combatentes
involuntários, inconscientes.
Perguntas flutuantes
Certezas comuns já de antes
teimoso balanço
entre o deixar e o buscar.
Distante descanso,
desejado lugar.
Um olhar.
Dois.
O quê vem depois?
A esperança de algo mais
por trás
de frente
enfrenta,
aguenta.
Aguenta?
Tenta
ou sustenta?

O azul tão de perto
revela o certo
O vermelho aberto
escuta, transborda.
Sonha, mas acorda.
Confia e cora;
cora cor azul,
invasora acolhida,
eterna e querida.
Metade de vida.

sábado, 31 de dezembro de 2011

Novo ano, onde está a nova vida que você me prometeu?




Mais uma virada de ano. Mais mil votos de viradas de vida. Desejam-se novidades, alegrias, sucesso, paz, tudo quanto é palavra que soa bem. Toda aquela preparação e o ano vira. Um segundo vira outro e a vida... vira?
Tem quem queira que vire do avesso, pro lado contrário, de pernas pro ar. Tem quem queira que vire positivamente, pra frente, na direção das coisas boas que desejam aos próximos e a si mesmos.
2012 é o vocativo dos chamados para chegar logo e trazer consigo tudo isso; espera-se com grandiosas expectativas todas as surpresas que o ano trará.
O problema disso tudo é que o calendário novo não pode se responsabilizar pela vida das pessoas. Não são um número, novas folhas de papel, 4 estações demarcadas e nem aquele 29 de fevereiro que não tivemos em 2011 que farão do vindouro um ano diferente. O sujeito está errado, 2012 é apenas advérbio temporal.
E pra você que balança a cabeça em concordância com isso e pensa "é, o sujeito sou eu", não, meu amigo, ainda não chegou lá. Explicá-lo-ei.
Réveillon, o nome que demos para essa data, vem do verbo francês "réveiller", que significa "despertar". É possível relacioná-lo ao nascer de um novo ano, mas pelas razões expostas acima, prefiro associá-lo a nós mesmos. A mim. Eu preciso despertar. Preciso acordar. Nós precisamos.
Precisamos abrir os olhos para a realidade, não apenas aquela que diz respeito à cicatriz ventral em torno da qual muitas vezes achamos que o universo orbita, mas sim aquela que abrange um campo de visão maior que o dos nossos olhos. Pensando nos excluídos, adoentados, miseráveis que não tem pão e muito menos peru pra cear em fim de ano e ter mais do que pena deles; tomando iniciativa, sendo proativos. Precisamos olhar pras nossas famílias, atentar para os relacionamentos de dentro de casa, deixar a negligência e o egoísmo e parar pra dizer um "eu te amo" àqueles que mais convivem conosco, mas que por vezes são os que menos ouvem essas palavras da nossa boca. Precisamos olhar pro futuro, sem tirar os pés no presente, agindo agora visando a colheita de amanhã. Agindo agora, repito.
Mas antes de tudo isso, precisamos acordar a nossa fé naquele que é o verdadeiro sujeito dessa história toda.
Ele é quem nos leva a agir de maneira que não apenas o último algarismo das nossas datas mude, mas de modo que nós mudemos o que for necessário em nós mesmos, refletindo no que nos envolve. Aquele que detém o conhecimento e o controle de todas as coisas é o mesmo que nos oferece amor constante, que não passa nem se interrompe, e graça contínua, que não serve apenas para ocasiões especiais, mas nos perdoa e justifica imerecidamente.
O que espero hoje, amanhã, depois de amanhã e depois de depois de amanhã (...) é o fortalecimento da fé. Não da ilusão que preenche tanta gente, que nessa madrugada vai se vestir de uma cor X e fazer mil promessas e desejos. Nem daquela confiança de que tudo vai acontecer sozinho na hora que for pra acontecer, que deixa estagnados os que a têm. Mas sim da fé, que traz consigo a esperança fundamentada, a disposição, a força, a sabedoria verdadeira e a felicidade como trajeto e não como destino.
Venha 2012 e chame aqueles que têm fé para conhecerem as alegrias preparadas para eles. Pois é nO Sujeito que está a tão esperada Nova Vida.

sábado, 26 de novembro de 2011

Blusa amarela com lantejoulas

Aquela menina da blusa amarela com lantejoulas, vês? Pois sim, ela.

Acontece que falo de uma menina cuja história é um tanto incomum. Nada de estranho ou estarrecedor; trata-se duma história...digamos que "irrepetível". Sim, é este o termo.

Nascida, nova já aprendia o que quer que lhe ensinassem. Com destreza, lhe afirmo. Dançou, cantou, tocou piano e, decerto, corações, com sua graça e seu brilho.
E cresceu. Ganhou os devidos centímetros, uns poucos - bem poucos - quilos, três irmãos, muitos amigos e um amor. Pôs-se aos estudos, alçando corajosos voos e, com louvor, alcançou grandes alturas, embora jamais tenha se bastado ao conhecimento já tido. Como lhe disse, não se trata duma pessoa qualquer, meu amigo. E, bom, se pensas que isso tudo que lhe venho contando já conclui a história, te enganas. Pra além daqui, ainda vamos avançar num ponto: essa de quem lhe falo era diferente; tinha algo diferente; fazia tudo diferentemente e de tudo, diferente. Embora tenha se encarreirado pelos caminhos da Odontologia, não era esse o principal motivo que lhe levava a fazer sorrirem os outros. Talvez porque, acredite, não era essa ciência o que mais estudava, o que mais lhe preenchia a cabeça. Algo além lhe ocupava a mente e habitava o coração. Constituía a razão de seus cantos, passos, palavras e jeitos; o motivo de seu sorriso e de sua liberdade.

Voltando à história em si, preciso contar-lhe que ainda recebeu dentro de si, e em trinta e poucas semanas, dentro de sua casa, duas meninas. Chegaram no intervalo de quatro-quase-cinco anos, por forças de algo que não o mero destino. E a partir de então, confesso que tenho maior propriedade pra lhe falar; foi quando tive a graça de conhecê-la. Sabes que foi aos poucos que isso se deu, certo? Levei uns tantos a entender quem era ela, embora já soubesse chamá-la e dela tomasse grande quantia de tempo. Demandei sua atenção até de forma abusiva, considero eu, mas foi assim que pude descobrí-la aqui e ali, e entender que não se importava de maneira alguma em atender aos meus pedidos ainda que lhe custassem o sono. Notei-lhe o cuidado, empenho, dedicação incondicional. Sua paciência em ensinar, em disciplinar, bem como no envolver-se verdadeiro, mais tarde se tornaram evidentes para mim. Amigo, te conto ainda que as histórias cheias de Marias que ela contava até hoje permeiam as minhas memórias. Como ri! Como esperei aflita em ansiedade pelos capítulos vindouros! Recebi dela orientação em muito, naquilo que se podia aprender em livros, bem como naquilo que talvez nem o tempo conseguiria me ensinar tão bem. Trouxe-me conhecimento das letras, incentivou-me a buscar melodias nas mãos e nos pés. Ensinou-me da vida, da Vida... e dela se tornou, como posso dizer?...parte especial. Sinceramente, não exatamente "parte", porque "parte" soa definido, limitado. E esteja certo, amigo, que não encontrei nem pretendo encontrar os contornos da tamanha importância que tem ela em minha história.

Constante no passado; presente no presente; eterna para sempre.

Acontece que a blusa amarela com lantejoulas passou pra mim e muito tenho lutado - e assim prosseguirei - pra merecer vestí-la.
E acontece que essa de quem tanto - apesar de, ainda assim, pouco - falei é minha amiga mais especial, longe ou perto, atemporal.
Costumo chamá-la minha mãe. Costumo dizer que a amo. E muito.